A Privacidade Morreu

Por Nilton Wainer

Seu número na lista telefônica era a única forma de encontrar você, até há alguns anos. Hoje, experimente pesquisar por seu nome no Google: provavelmente você encontrará várias ocorrências - talvez centenas - com dados de sua vida ali expostos.

A barreira que separa o que é privado e público em nossas vidas tornou-se um véu diáfano, cada vez mais transparente e fora de nosso controle. Vinte anos depois de George Orwell imaginar a existência do Grande Irmão no livro "1984", sua onipresença vigia nossa rotina.

Se isso incomoda, não adianta se rebelar: conforme-se e adapte-se, pois é irreversível.

Na sociedade da informação, atividades como fazer compras num supermercado, se cadastrar na portaria de um prédio, circular pelas ruas, tudo é registrado em sistemas digitais, às vezes com imagem e som, e os dados podem fluir entre eles, com ou sem nossa autorização, fazendo com que nossos hábitos sejam conhecidos, analisados e utilizados para diversos fins, da ciência à propaganda.

Além dos registros inevitáveis, uma a cada quatro pessoas se expõe voluntariamente nas redes sociais. Este número deve chegar a 2,3 bilhões em 2017.

O social networking mudou a forma de se relacionar com amigos, colegas, família e empresas. Imaginando que a tela do computador garanta o anonimato e a rede seja um território íntimo, as pessoas se expõem sem cuidado. Na realidade, a internet é um meio de comunicação social, onde tudo o que se faz e diz se torna imediatamente público.

Muitos habitantes deste mundo digital reivindicam mais privacidade e controle em seus domínios. As recentes mudanças no Facebook, que permitem um melhor controle de quem poderá ter acesso ao que publicamos, reflexo desta preocupação, são apenas um paliativo.

A rede é cada vez mais social, satisfazendo nossa necessidade de contato – seres gregários que somos - além de facilitar as tarefas da vida diária, nos informar, divertir, auxiliar o trabalho e o aprendizado. No entanto, ela passou a nos expor muito mais do que estávamos acostumados. E isso pode trazer rápidos e imprevisíveis efeitos, pela capilaridade da teia e velocidade da tecnologia.

É preciso aprender a lidar com o paradoxo entre o desejo de expressão e o de privacidade, refletindo antes de "postar". Uma boa forma de decidir se devemos ou não publicar as informações pessoais e os comentários que fazemos na rede é pensar:

- Será que eu colocaria isto num outdoor?